segunda-feira, 17 de junho de 2013

Introdução

Um universo cultural ao nosso redor

A história do Brasil é formada por fatos que nos ligam à cultura de outros países e povos. Alguns desses fatos foram ruins, mas também houve, e ainda ocorrem, fatos bons e de união com diferentes culturas. Um país que temos contato desde o início de nossa história é Portugal.
Nas atividades a seguir, você terá contato com textos literários que demonstram como é importante a cultura portuguesa para a cultura brasileira. Serão apresentadas obras de grandes escritores como Gil Vicente e Ariano Suassuna. As obras que serão estudas pertencem ao gênero dramático, que é um gênero literário voltado para as peças de teatro.
Bom estudo!

Antes de começarmos as atividades, vai uma pergunta: Sabe o que são gêneros literários?

Gêneros literários são as classificações e tipos dos textos voltados para a literatura. As classificações que utilizamos até hoje foram feitas na Grécia antiga, por Aristóteles e Platão. Os gêneros literários são divididos em três grupos: o gênero narrativo, gênero lírico e gênero dramático.  

Atividade 1 - Leitura da obra: Auto da barca do inferno

Atividade 1 – Auto da barca do inferno, de Gil Vicente – Clássico da literatura portuguesa.
                                              Fonte: http://assuntosdiversos.com.br/wordpress

Começaremos com a obra de um escritor português. Gil Vicente, que pertenceu à escola literária humanista de Portugal, foi praticamente o fundador do teatro Português, com suas peças que abordavam com humor e ironia alguns problemas sociais vividos na época. Segundo historiadores, Gil Vicente nasceu por volta de 1465, e sua última publicação foi em 1536, não tendo exatamente a data de falecimento (http://educacao.uol.com.br/biografias/gil-vicente).
Entre sua grande obra literária, sempre na forma de peças teatrais, está o Auto da barca do inferno, que foi encenada pela primeira vez em 1517, obra que iremos abordar nesta atividade.  

Proposta da atividade 1: Ler completamente o livro Auto da barca do inferno; e para realizar as próximas atividades, se atente sobre detalhes como: o tema da história; o ambiente onde as cenas ocorrem; os personagens; perceba se há alguma crítica social. 

Atividade 2 - Leitura da obra: Auto da Compadecida

Atividade 2 – Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna - Relíquia da literatura brasileira.
                                        Fonte: http://diretasja.com.br

Vamos ver agora um trecho da obra Auto da Compadecida, do escritor brasileiro Ariano Suassuna. Esta obra é muito interessante para compararmos com a obra portuguesa que vimos na atividade anterior.
Um pouco sobre o escritor, Suassuna nasceu em 1927 no Rio de Janeiro, e por suas importantes obras e o reconhecimento de ser um grande escritor, se tornou membro da Academia Brasileira de Letras em 1990, ocupando a cadeira número 32. Além de escritor, ele é advogado, professor e teatrólogo. Hoje, aos 85 anos de idade, ele é secretário de assessoria ao governador de Pernambuco.  Foi um dos fundadores do Movimento Armorial, que defende a arte da cultura popular nordestina (http://educacao.uol.com.br/biografias/ariano-suassuna).

Proposta da atividade 1: Ler completamente o livro Auto da Compadecida; e para realizar as próximas atividades, se atente sobre detalhes como: o tema da história; o ambiente onde as cenas ocorrem; os personagens; perceba se há alguma crítica social. 

Atividade 3 - Encenação Auto da barca do inferno

Atividade 3 – Encenação de um trecho do Auto da barca do inferno

Antes das atividades 3 e 4: Formem 2 grupos com todos seus colegas da sala de aula. Por meio de um sorteio, definam quem será o grupo 1 e o grupo 2.
Proposta da atividade 3: O grupo 1 irá encenar o trecho selecionado da obra Auto da barca do inferno.
Escolham quem encenará os personagens do trecho da obra. O restante do grupo irá cuidar de improvisar o figurino e o cenário.
Personagens:
DIABO; FIDALGO; ANJO.
Obs.: Esta obra foi escrita de forma a ser encenada, apresentando a fala de cada um dos personagens e servindo como o roteiro de cada ator.

Trecho selecionado da obra Auto da barca do inferno:
[...]
Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um dos dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu Arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
[...]
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO
Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO
Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess’ora.
FIDALGO
Pera lá vai a senhora?
DIABO
Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO
Parece-me isso cortiço...
DIABO
Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO
Porém, a que terra passais?
DIABO                                                                                  

Pera o inferno, senhor.
FIDALGO
Terra bem sem-sabor.
DIABO
Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO
E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO
Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO
Parece-te a ti assi!...
DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...

Embarcar – ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes!
segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.

Pois que já a morte passastes,
Haveis de passar o rio.
FIDALGO
Não há aqui outro navio?
DIABO
Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me destes logo sinal.
FIDALGO
Que sinal foi esse tal?
DIABO
Do que vós vos contentastes.
FIDALGO
A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!...
(Pardeus, aviado estou!
Cant’a isto é já pior...)
Oue jericocins, salvanor!
Cuidam cá que são eu grou?

ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
e esta em que navegais.
É esta em que navegais.
ANJO
Esta é, que demandais?
FIDALGO
Que leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
É bem que recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania
Neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal
Que entre a minha senhoria...
ANJO
Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
FIDALGO
Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?

Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!
ANJO
Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
A cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.

Ireis lá mais espaço,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO
À barca, a barca, senhores!
Oh! Que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes.
FIDALGO
Ao inferno, todavia!
Inferno há i pera mi?
Oh triste! Enquanto vivi
não cuidei que o i havia:
tive que era fantesia!
Folgava ser adorado
E não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.
DIABO
Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos...
Tomarês um par de remos,
veremos com remais,
E, chegando ao nosso cais,
todos bem vos serviremos.
FIDALGO
Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha dama querida
que se quer matar por mi.
DIABO
Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namoro sandeu,
o maior que nunca vi!...
FIDALGO
Como po’rá isso ser,
que m’escrevia mil dias?
DIABO
Quantas mentiras que lias,
E tu... morto de prazer!...
FIDALGO
Pera que é escarnecer,
Quem nom havia mais no bem?
DIABO
Assi vivas tu, amém,
como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirado,
se estava ela requebrando
com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver,
Despenhar-se-á dum cabeço!

Quanto ela hoje rezou,
Antre seus gritos e gritas,
Foi das graças infinitas
A quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant´a ela, bem chorou!
DIABO
Nom há i choro de alegria?...
FIDALGO
E as lástimas que dezia?
DIABO
Sua mãe lhas ensinou...

Entrai, meu senhor, entrai:
Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai,
Passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente!

Maldito quem em ti vai! [...]

Atividade 4 - Encenação do Auto da Compadecida

Atividade 4 – Encenação de um trecho da obra Auto da Compadecida

Proposta da atividade: O grupo 2 (lembre-se do sorteio feito na atividade 1) irá encenar o trecho selecionado da obra Auto da Compadecida.
Da mesma maneira que foi feito para o grupo 1 na atividade anterior, escolham quem encenará os personagens do trecho da obra e o restante do grupo irá cuidar de improvisar o figurino e o cenário.
Personagens:
MANUEL; JOÃO GRILO; ENCOURADO; MULHER; BISPO; PADRE; PADEIRO; SEVERINO; SACRISTÃO.
Obs.: Esta obra também foi escrita de forma a ser encenada, assim, cada parte apresenta a fala de um personagem, servindo como o roteiro de cada ator.

Trecho selecionado da obra O Auto da Compadecida:

 [...] MANUEL:
E agora? Que é que você diz em sua defesa?
Sei que você é astuto, mas não pode negar
O fato de que foi acusado.
JOÃO GRILO:
O senhor vai-me desculpar, mas eu não fui
Acusado de coisa nenhuma.
MANUEL:
Não?
ENCOURADO:
Foi mesmo não. Começou com uma confusão
Tão grande que eu me esqueci de acusá-lo. Vou
Começar.
JOÃO GRILO:
Você não vai começar coisa nenhuma,
Porque a hora de acusar já  passou.
MANUEL:
Deixe de chicana, João, você pensa que
Isso aqui é o palácio de justiça? Pode acusar.
ENCOURADO:
Agora você me paga, amarelo. O sacristão
O padre e o bispo fizeram o enterro do cachorro,
Mas a história foi toda tramada por ele. E vendeu
Um gato a mulher do padeiro dizendo que ele
Botava dinheiro.
JOÃO GRILO:
Mentira, Nosso Senhor.
MANUEL:                                                                       

Verdade, João Grilo.
JOÃO GRILO:
É, é verdade, mas do jeito que eles me
Pagavam, o jeito era eu me virar. Além disso eu
Estava com pena do gato, tão abandonado, e queria que ele passasse bem.
MULHER:
É, e nessa pena levou meus quinhentos mil réis.
ENCOURADO:
Depois, foi ele quem matou Severino e o cabra dele,
com uma história de gaita, Padre Cícero e não sei que mais.
JOÃO GRILO:
Legítima defesa Senhor!
ENCOURADO:
Mentira, Manuel!
MANUEL:
Verdade, demônio!
ENCOURADO:
Mas não se esqueça de que a história estava
Preparada para a mulher do padeiro.
MANUEL:
É verdade João, você passou da conta João. E
Tudo por causa do bife, passado na manteiga!
ENCOURADO:
De modo que o caso dele é sem jeito. É o primeiro
Que vou levar. Essa é boa, João Grilo, o amarelo, que enganava
Todo mundo, vai levar na cabeça!
JOÃO GRILO:
Ah e você pensa que eu me entreguei?
Pode ser que eu vá, mas não é assim não!
BISPO:
Mas é caso sem jeito, João. Ai meu Deus!
PADRE:
Ai meu Deus!
SACRISTÃO:
Ai meu Deus!
JOÃO GRILO, PARA MANUEL:
Olhe a besteira deles: Deus aqui e eles gritando
Por Deus!
MANUEL:
E por quem eles iriam gritar?
JOÃO GRILO:
Por alguém que está mais perto de nós,
Por gente que é gente mesmo.
MANUEL:
E eu não sou gente, João? Sou homem,
Judeu, nascido em Belém, criado em Nazaré,
Fui ajudante de carpinteiro... Tudo isso vale alguma
Coisa.
JOÃO GRILO:
O senhor quer saber de uma coisa?
Eu vou lhe ser franco: o senhor e gente, mas não
Muito não. É gente e ao mesmo tempo é Deus, é uma
Misturada muito grande. Meu negócio é com outro.
BISPO:
Agora a gente está desgraçado de vez. João,
Isso é coisa que se diga?
MANUEL:
Mas o que foi que João disse demais?
Tudo isso é verdade, porque eu sou homem e sou
Deus!
ENCOURADO:
 Homem, dê-se a respeito!
MANUEL:
Esse respeito de que você fala, foi coisa
Que eu nunca soube impor, graças A Deus.
JOÂO GRILO:
Eu, se fosse o senhor, nunca diria “Graças a Deus!”
MANEL:
Por que? É uma coisa que todo mundo diz.
JOÂO GRILO:
O senhor não é Deus?
MANUEL:
 Sou.
JOÃO GRILO:
Pois eu, se fosse Deus, só diria “Graças a mim”.
MANUEL:
Para que João?
JOÃO GRILO:
Para fazer inveja ao diabo.
ENCOURADO:
A confusão já começa. Apelo para a justiça.
JOÃO GRILO:
E eu para misericórdia.
PADRE:
Acho que nosso caso é sem jeito, João.
Uma vez estudei uma lição sobre isso e sei que
Em Deus não existe contradição entre a justiça e a
Misericórdia. Já fomos julgados pela justiça, a misericórdia
Dirá a mesma coisa.
JOÃO GRILO:
E quem
 foi que disse que nós fomos julgados pela justiça?
PADRE:
Você mesmo ouviu Nosso Senhor dizer que a situação
Era difícil.
JOÃO GRILO:
E difícil quer dizer sem jeito? Sem jeito!
Sem jeito por quê? Vocês são uns pamonhas,
Qualquer coisinha estão arriando. Não vê que
Tiveram tudo na terra? Se tivessem tido que
Aguentar o rojão do João Grilo, passando fome,
E comendo macambira na seca, garanto que
Tinham mais coragem. Quer ver eu dar um jeito nisso,
Padre João?
PADRE:
Quero, joça.
JOÃO GRILO:
Agora é joça hem? E você, Senhor Bispo?
BISPO:
Eu também, João.
JOÃO GRILO:
Padeiro?
PADEIRO:
Veja o que pode fazer, João.
JOÃO GRILO:
 Severino? Mulher e cabra?
MULHER:
Nós também. Nossa esperança é você.
JOÃO GRILO:
Tudo precisando de João Grilo! Pois vou
Dar um jeito.
ENCOURADO:
É isso que eu quero ver.
MANUEL:
Com quem você vai se apegar, João?
Com algum santo?
JOÃO GRILO:
O senhor não repare não, mas de besta eu só
Tenho a cara. Meu trunfo é maior do que qualquer santo.
MANUEL:
Quem é?
JOÃO GRILO:
A mãe da justiça.
ENCOURADO:
AH,  a mãe da justiça! Quem essa?
MANUEL:
Não ria, porque  ela existe.
BISPO:
E quem é?
MANUEL:
A misericórdia.
 SEVERINO:
Foi coisa que nunca conheci. Onde mora?
E como chamá-la?
JOÃO GRILO:
Ah isso é comigo. Vou fazer um chamado especial,
Em verso. Garanto que ela vem, querem ver? (Recitando.)
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
A vaca mansa da leite,
A braba dá quando quer.
A mansa da sossegada,
A braba levanta o pé.
Já fui barco,
Já fui navio,
Mas hoje sou escaler.
Já fui menino, fui homem,
Só me falta ser mulher.
Valha-me Nossa Senhora,
Mãe de Deus de Nazaré!
[...]