segunda-feira, 17 de junho de 2013

Atividade 3 - Encenação Auto da barca do inferno

Atividade 3 – Encenação de um trecho do Auto da barca do inferno

Antes das atividades 3 e 4: Formem 2 grupos com todos seus colegas da sala de aula. Por meio de um sorteio, definam quem será o grupo 1 e o grupo 2.
Proposta da atividade 3: O grupo 1 irá encenar o trecho selecionado da obra Auto da barca do inferno.
Escolham quem encenará os personagens do trecho da obra. O restante do grupo irá cuidar de improvisar o figurino e o cenário.
Personagens:
DIABO; FIDALGO; ANJO.
Obs.: Esta obra foi escrita de forma a ser encenada, apresentando a fala de cada um dos personagens e servindo como o roteiro de cada ator.

Trecho selecionado da obra Auto da barca do inferno:
[...]
Primeiramente, no presente auto, se fegura que, no ponto que acabamos de espirar, chegamos supitamente a um rio, o qual per força havemos de passar em um dos dous batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa pera o paraíso e o outro pera o inferno: os quais batéis tem cada um seu Arrais na proa: o do paraíso um anjo, e o do inferno um arrais infernal e um companheiro.
[...]
Vem o Fidalgo e, chegando ao batel infernal, diz:
FIDALGO
Esta barca onde vai ora,
que assi está apercebida?
DIABO
Vai pera a ilha perdida,
e há-de partir logo ess’ora.
FIDALGO
Pera lá vai a senhora?
DIABO
Senhor, a vosso serviço.
FIDALGO
Parece-me isso cortiço...
DIABO
Porque a vedes lá de fora.
FIDALGO
Porém, a que terra passais?
DIABO                                                                                  

Pera o inferno, senhor.
FIDALGO
Terra bem sem-sabor.
DIABO
Quê?... E também cá zombais?
FIDALGO
E passageiros achais
pera tal habitação?
DIABO
Vejo-vos eu em feição
pera ir ao nosso cais...
FIDALGO
Parece-te a ti assi!...
DIABO
Em que esperas ter guarida?
FIDALGO
Que leixo na outra vida
quem reze sempre por mi.
DIABO
Quem reze sempre por ti?!..
Hi, hi, hi, hi, hi, hi, hi!...
E tu viveste a teu prazer,
cuidando cá guarecer
por que rezam lá por ti?!...

Embarcar – ou embarcai...
que haveis de ir à derradeira!
mandai meter a cadeira,
que assi passou vosso pai.
FIDALGO
Quê? Quê? Quê? Assi lhe vai?!
DIABO
Vai ou vem! Embarcai prestes!
segundo lá escolhestes,
assi cá vos contentai.

Pois que já a morte passastes,
Haveis de passar o rio.
FIDALGO
Não há aqui outro navio?
DIABO
Não, senhor, que este fretastes,
e primeiro que expirastes
me destes logo sinal.
FIDALGO
Que sinal foi esse tal?
DIABO
Do que vós vos contentastes.
FIDALGO
A estoutra barca me vou.
Hou da barca! Para onde is?
Ah, barqueiros! Não me ouvis?
Respondei-me! Houlá! Hou!...
(Pardeus, aviado estou!
Cant’a isto é já pior...)
Oue jericocins, salvanor!
Cuidam cá que são eu grou?

ANJO
Que quereis?
FIDALGO
Que me digais,
pois parti tão sem aviso,
se a barca do Paraíso
e esta em que navegais.
É esta em que navegais.
ANJO
Esta é, que demandais?
FIDALGO
Que leixeis embarcar.
Sou fidalgo de solar,
É bem que recolhais.
ANJO
Não se embarca tirania
Neste batel divinal.
FIDALGO
Não sei porque haveis por mal
Que entre a minha senhoria...
ANJO
Pera vossa fantesia
mui estreita é esta barca.
FIDALGO
Pera senhor de tal marca
nom há aqui mais cortesia?

Venha a prancha e atavio!
Levai-me desta ribeira!
ANJO
Não vindes vós de maneira
pera entrar neste navio.
Essoutro vai mais vazio:
A cadeira entrará
e o rabo caberá
e todo vosso senhorio.

Ireis lá mais espaço,
vós e vossa senhoria,
cuidando na tirania
do pobre povo queixoso.
E porque, de generoso,
desprezastes os pequenos,
achar-vos-eis tanto menos
quanto mais fostes fumoso.
DIABO
À barca, a barca, senhores!
Oh! Que maré tão de prata!
Um ventozinho que mata
e valentes remadores!
Diz, cantando:
Vós me veniredes a la mano,
a la mano me veniredes.
FIDALGO
Ao inferno, todavia!
Inferno há i pera mi?
Oh triste! Enquanto vivi
não cuidei que o i havia:
tive que era fantesia!
Folgava ser adorado
E não vi que me perdia.
Venha essa prancha! Veremos
esta barca de tristura.
DIABO
Embarque vossa doçura,
que cá nos entenderemos...
Tomarês um par de remos,
veremos com remais,
E, chegando ao nosso cais,
todos bem vos serviremos.
FIDALGO
Esperar-me-ês vós aqui,
tornarei à outra vida
ver minha dama querida
que se quer matar por mi.
DIABO
Que se quer matar por ti?!...
FIDALGO
Isto bem certo o sei eu.
DIABO
Ó namoro sandeu,
o maior que nunca vi!...
FIDALGO
Como po’rá isso ser,
que m’escrevia mil dias?
DIABO
Quantas mentiras que lias,
E tu... morto de prazer!...
FIDALGO
Pera que é escarnecer,
Quem nom havia mais no bem?
DIABO
Assi vivas tu, amém,
como te tinha querer!
FIDALGO
Isto quanto ao que eu conheço...
DIABO
Pois estando tu expirado,
se estava ela requebrando
com outro de menos preço.
FIDALGO
Dá-me licença, te peço,
que vá ver minha mulher.
DIABO
E ela, por não te ver,
Despenhar-se-á dum cabeço!

Quanto ela hoje rezou,
Antre seus gritos e gritas,
Foi das graças infinitas
A quem a desassombrou.
FIDALGO
Cant´a ela, bem chorou!
DIABO
Nom há i choro de alegria?...
FIDALGO
E as lástimas que dezia?
DIABO
Sua mãe lhas ensinou...

Entrai, meu senhor, entrai:
Ei la prancha! Ponde o pé...
FIDALGO
Entremos, pois que assi é.
DIABO
Ora, senhor, descansai,
Passeai e suspirai.
Em tanto virá mais gente.
FIDALGO
Ó barca, como és ardente!

Maldito quem em ti vai! [...]

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